Do sismo de 1 de novembro de 1755 fala-se, sobretudo, da destruição da cidade de Lisboa. Fala-se menos dos impactos em Setúbal ou no Algarve. Hoje não seria assim.
Estas duas regiões têm atualmente uma exposição muito maior, incomparável com a deste sismo histórico. A exposição, definida como número de pessoas, edifícios e outros elementos em risco numa determinada região, é o segundo componente na avaliação do risco sísmico. E a península de Setúbal, por exemplo, é hoje um polo industrial e habitacional relevante do país.
O terceiro componente é a vulnerabilidade, que se avalia pela vulnerabilidade propriamente dita, de populações e estruturas construídas pelo homem, e pela resiliência. A vulnerabilidade da população avalia-se, como noutras situações, por parâmetros sociais — por exemplo, os idosos e crianças são mais vulneráveis que os jovens ativos –, enquanto a resiliência e a capacidade da população se organizar, recuperar e voltar ao estado em que estava antes do sismo — como temos assistido em Itália, onde nem recorreram a ajuda externa para enfrentar a catástrofe.
Já no caso das estruturas, as mais vulneráveis são aquelas que ficam com danos graves depois de um sismo, enquanto as mais resilientes são aquelas que conseguem manter-se de pé, sem colapsar, mesmo que tenham sofrido grandes danos.
Perigosidade, exposição e vulnerabilidade combinam-se assim para avaliar o risco sísmico, mostrando que mesmo numa região de perigosidade elevada, se a exposição e vulnerabilidade forem baixas, o risco sísmico poderá ser baixo também. Daí que Alfredo Campos Costa defenda: “Gostava de ver uma legislação mais focada no risco do que na perigosidade”. Mas também admite que este foco na perigosidade é uma prática comum noutros países do mundo.
Ainda que não se consiga prever quando e com que energia se manifestará um sismo, é possível diminuir o risco de uma determinada região. A exposição será o componente mais difícil de controlar, mas a perigosidade pode estar bem estudada pelos cientistas, como se tem feito em Portugal, e a vulnerabilidade das populações, edifícios e outras estruturas pode ser diminuída. Não chega à Proteção Civil ter um plano de emergência bem desenhado, porque num sismo de grande intensidade os hospitais podem ruir, os carros de bombeiros podem ficar impedidos de circular e o número de operacionais da proteção civil pode ficar reduzido devido aos mortos, feridos e desaparecidos. É preciso prevenir, reforçam os especialistas.
Conhecendo as características do solo e a perigosidade sísmica é possível, por um lado, fazer um ordenamento racional do território, e, por outro, preparar as construções para resistirem a um sismo naquela região. “Não são os sismos que matam gente, mas as construções que caem. E as construções são feitas pelo homem”, lembra Mário Lopes. Por isso, critica que tão pouco se faça em Portugal em termos de prevenção. Existe legislação nacional e comunitária que, se fosse cumprida, já deixava os cientistas descansados. Mas a fraca fiscalização e a falta de reforço antissísmico deixa-os apreensivos.
“Os impactos de um sismo podem ser minimizados através da adoção de medidas preventivas adequadas, nomeadamente pela construção de edificado moderno sismorresistente (cumprindo a legislação em vigor), pelo reforço antissísmico do edificado mais antigo, pela fiscalização de alterações estruturais ao edificado que podem reduzir a sua resistência antissísmica, por um ordenamento urbano adequado, e pela sensibilização e informação da população sobre as medidas preventivas a tomar e os procedimentos a ter no caso de ocorrência de um sismo”, resume João Cabral.
Fonte: Observador