Antigo inspetor da Polícia Judiciária, Moita Flores, reagiu há poucas horas ao falecimento de Lara, a menina de dois anos que foi asfixiada pelo próprio pai, depois do mesmo ter tirado a vida à sua sogra, no Seixal.
No texto do escritor, pode ler-se uma crítica à justiça e aos valores que usamos para educar as novas gerações.
“SEM PALAVRAS:
Hesitei na foto que deveria publicar com este texto. Apeteceu-me mostrar a brutalidade do caso. Mas contive-me. Sei que esta publicação pode ser vista por crianças ou jovens. Ontem, no Seixal, um tipo tirou a vida à sogra para raptar a filha de dois anos.
Julgar-se-ia que numa separação litigiosa, o homem reivindicava a posse da filha. Não! Tirou a vida a uma criança. Fugiu. Quando a cabeça esfriou, decidiu pôr termo à vida. Sei que não há soluções fáceis para estes casos. Num mês e uma semana de 2019, 9 mulheres e uma criança de 2 anos perderam a vida em situações semelhantes.
Sei que a Justiça tem mão leve, para não dizer desleixada, para a violência doméstica. Sei que os preconceitos, a humilhação, a vergonha, o medo enclausuram as vítimas no seu próprio silêncio. Sei que o álcool e a drogas potenciam esta violência extrema. Sei que a escola não dá prioridade à formação de gente boa, fraterna. Estimula a competitividade, exalta o culto dos sábios em matemática ou geografia, ou noutra disciplina qualquer.
Procura formar sábios. Não se preocupa em formar crianças espiritualmente saudáveis. Ignora a educação moral e cívica. É o mito de Auschwitz, onde grandes cientistas assassinavam cruelmente milhares de presos como cobaias das suas investigações. Grande sábios, homens maus. Enquanto isto, os professores estão amarrados à Escola das fichas, ao trabalho administrativo, impedidos de cumprir a sua função em plenitude: ensinar e formar.
E as famílias não estão motivadas. Nem a Igreja. Afinal de contas, nós todos vivemos ou protestamos contra as consequências da violência doméstica. Mas Pôncio Pilatos é quem mais ordena. Lavamos as mãos. Chegado aqui, sabendo tudo aquilo que sei, também não sei nada. Apenas que dez mulheres já perderam a vida. Uma delas criança.”
Se concorda com o que foi escrito por Moita Flores, divulgue com os seus conhecidos.
Fonte: Bombeiros24